21 de maio de 2010

Colibris e cerejas

Vagueam no ar, suspensos pelos incontáveis batimentos de asas, seres coloridos, despreendidos. Um chilrear vizinho anima o som abafado do mar que se espraia atrás dumas quantas copas de àrvores. O sol vem, recortado de sombras, beijar o relvado e as paredes brancas do jardim. Desenha a cinza as folhas trémulas da cerejeira, que se agitam porque querem festejar o dourado que as contorna e o fim do dia que é mais doce que o mel. Por aragens adivinham-se as actividades culinárias, agora revestidas de uma rotina alegre e apetecida. Um dançar de cheiros, um cantar de loiça perfumada a mangericão. O estalar do alho na panela quente, o sorriso de um festim. E as cerejas prometidas deixam-se fecundar enquanto flores pelo colibri que, sem pensar, não lhes resiste. E eu sento-me porque todas as minhas forças se projectam a tentar saborear e memorizar esta fracção de segundos abençoada, inesquecivel, irrepreensivel, plenamente vivida. Nem me atrevo a fechar os olhos, ... sonho com eles abertos.

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