21 de novembro de 2010

No caminho e aparentemente sempre a perder! Até um dia...



Sobreviveu… acabou! No campo de batalha, duma guerra onde até já nem os dias eram contados, entre as brumas de uma nova madrugada cinzenta e fria até aos ossos. Sem sentir o sangue que escorre num fio, feito rio, no leito das temporas, ignorando as mãos doridas de tantos golpes de espada, os olhos vagueiam sem pensar, nem ver, os cadaveres que jazem escuros no chão. Com uma resistência, que se apaga, levanta ligeiramente a cabeça e percebe a bruma que se passeia como a penar, como nuvens que desceram para transladar… Em silêncio, nem o vento geme!  Em silêncio, vindas da fome e da guerra, lágrimas secas enchem o seu olhar…
Sobreviveu… acabou! Recorda os adversários derrotados, a vitória sabe-lhe a fel! Perdeu tanto que nem se lembra do que ganhou! Do que ganharam todos aqueles que perderam também a vida. Mas sabe que no meio das trevas a luz cega e que pela luz se desce e se atravessam as trevas… Tão cansado que nem tem força para pousar a espada! A vida parece-lhe vazia, inocupada, fria. A vida são as cinzas das casas onde se lutou, das casas onde se cresceu, das casas onde se amou. As cinzas são férteis para o terreno. As cinzas são infinitamente tristes e o seu peito molha-se de lágrimas não choradas...
Acabou, ... acreditava que chegaria ao fim vitorioso e exausto, mas nem percebe como afinal sobreviveu! Acabou... não tarda começa um novo dia, aparentemente apenas mais um dia, mas desta vez tão totalmente novo!
ao som de Adagio for Strings,OP.11 de Samuel Barber

6 comentários:

  1. Música perfeita para o que foi escrito. Mas triste. Muito triste...

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  2. Concordo com a CarMG (que curiosamente é do Barreiro, tal como eu ) quando diz ser a música perfeita para o que foi escrito. A única diferença, e ai sim seria perfeito, é o facto de o texto ser triste, muito triste… mas acabar com um toque de felicidade, com uma esperança nova, como dizes um novo dia. Ao invés da música que acaba da mesma forma triste como começou e tocou durante todo o seu tempo.

    Não sei se me arrepiei mais ao ouvir a música, se a ler o magnifico texto e no fim… suspirei!


    Beijo!

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  3. E assim se ultrapassa a barreira do tempo estático das memórias, da vida que passa, cheia de bravuras nas imensas batalhas travadas... sempre focada na esperança de um novo amanhã!

    Lindo texto!
    A musica tal como já te disse arrepia-me a alma sempre a ouço. ;-)

    Beijos!

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  4. Pois, eu comecei a ouvir a música e enchi-me de tristeza e apeteceu-me, em vez de desligar a música, escrever o que ela me fazia sentir. Pareci, por momentos, masoquista... :-)
    Beijos aos três!

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  5. Estranhamente, por vezes temos mesmo a necessidade de entrar num sofrimento que não é nosso!! E assim nos corroermos aos poucos sem razão, apenas com uma opção: a de tentarmos parar e sairmos (quase) incólumes(?)!

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  6. CarMG, ai não, estou longe disso, graças a Deus. Não me corroí, foi um exercicio de escrita... triste, mas com a duração da música (deve ter tocado umas 3 ou 4 vezes, é certo!). Viver um sofrimento que não é nosso, hum! A compaixão que temos em sentimentos solidários com os que sofrem, mas da qual não devemos nunca esquecer a outra face: a cumplicidade que também todos temos de sermos outras dimensões além desta! :-) Um beijo!

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